terça-feira, 30 de março de 2010

Abaixo-assinado em defesa do MNA

É preciso defender o Museu Nacional de Arqueologia!

Para subscrever esta declaração:
http://www.peticao.com.pt/mna

Declaração da Assembleia-Geral da Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional de Museus (ICOM)

EM DEFESA DO MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA

Quando há cerca de um ano o anterior Governo colocou a hipótese da transferência do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) para a Cordoaria nacional, o seu Grupo de Amigos (GAMNA) chamou logo a atenção para os riscos inerentes, dos quais o mais importante é o da segurança geotécnica do local e do próprio edificado da Cordoaria, para aí se poderem albergar as colecções do Museu Nacional português com colecções mais volumosas e com o maior número de peças classificadas como “tesouros nacionais”.

Após as últimas eleições pareceu ser traçado um caminho que permitia encarar com seriedade esta intenção política. A ministra da Cultura afirmou à imprensa que fora pedido ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) um parecer acerca das referidas condições geotécnicas e que seria feito projecto de arquitectura coerente, respeitador tanto da Cordoaria Nacional como do programa do Museu. Ao mesmo tempo garantiu que esse complexo seria totalmente afecto ao MNA, sem a instalação antecipada de outros serviços no local. Sendo assim, deixaria também de ser necessário alienar espaços do MNA nos Jerónimos, a título de garantia da ocupação antecipada da Cordoaria.

Causa, pois, profunda estranheza a sucessão de acontecimentos das últimas semanas, os quais vão ao ponto de comprometer ou até inviabilizar a continuidade da gestão do Director do Museu, que nos cumpre elogiar pelo dinamismo que lhe conseguiu imprimir e de cujos interesses se constitui, perante todos nós, em legítimo garante.

O estudo tranquilizador que se dizia ter sido pedido ao LNEC, deu afinal lugar a parecer meramente pessoal do técnico convidado para o efeito. O GAMNA, encomendou estudo alternativo, que vai em sentido contrário. O Director do Museu recolheu, ele próprio, outros pareceres, dos mais reputados especialistas da área da engenharia sísmica, que igualmente corroboram e ampliam as preocupações existentes. É agora óbvia a necessidade da realização de um programa de sondagens e de verificações in loco, devidamente controlado por entidade idónea, de modo a poder definir com rigor a situação da Cordoaria em matéria de riscos sísmicos, maremoto, efeito de maré, inundação e infiltração de águas salgadas. A recente tragédia ocorrida na Madeira, onde se perdeu quase por completo o acervo do Museu do Açúcar, devido a inundação, aí está para nos lembrar como não pode haver facilidade e ligeireza neste tipo de decisões.

Enquanto não estiver garantida a segurança geotécnica da instalação do MNA na Cordoaria Nacional e enquanto não forem realizados os adequados estudos de planeamento urbano e circulação viária, importa manter todas as condições de operacionalidade do Museu nos Jerónimos. Neste sentido consideramos incompreensível a alienação pretendida da “torre oca” a curto prazo, até porque uma tal opção iria comprometer definitivamente qualquer hipótese futura de regressar a planos de remodelação e ampliação do MNA nos Jerónimos, conforme foi a opção consistente de sucessivos Governos, até há dois anos. O MNA merece todo o respeito e não pode ser considerado como mero estorvo num local onde aparentemente se quer fazer um novo Museu.

O poder político não pode actuar ignorando os pareceres técnicos qualificados e agindo contra o sentimento de todos os que amam o património e os museus. Apelamos ao bom senso do Governo, afirmando desde já a nossa disposição para apoiar o GAMNA na adopção de todas as medidas cívicas e legais necessárias para que seja defendida, como merece, a instituição mais do que centenária fundada pelo Doutor Leite de Vasconcelos, o antigo “museu do homem português” e actual Museu Nacional de Arqueologia.

Lisboa, em 29 de Março de 2010.

[Declaração e abaixo-assinado adoptado pela Assembleia-Geral da Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Museus-ICOM]

Para subscrever esta declaração: http://www.peticao.com.pt/mna

segunda-feira, 29 de março de 2010

MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA: mudar, só para melhor


Esta mensagem não é exactamente sobre Egiptologia, mas reveste-se de grande importância divulgar o comunicado do Director do Museu Nacional de Arqueologia em resposta à febre de expulsão do MNA dos Jerónimos empreendida pelo Ministério da Cultura. Um dos grandes museus de Portugal é claramente colocado em risco por (mais uma!) atitude autista e até irresponsável da pasta agora encabeçada por Gabriela Canavilhas. É preciso dizer não!
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MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA: mudar, só para melhor


Uma vez que foi anunciada a intenção de fazer transitar rapidamente o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) para a Cordoaria Nacional (CN), destinando-se o espaço dos Jerónimos à ampliação do Museu de Marinha ou a um novo museu, o Museu da Viagem, julgo já ser altura de dizer o que penso sobre o assunto. A tal me conduzem os deveres que tenho para com os visitantes, o Grupo de Amigos do MNA, as comunidades científicas e museológicas a que pertenço e sobretudo para com a minha própria consciência pessoal. Vejo, aliás, que o tema mobiliza as comunidades da arqueologia, da museologia e do património e começou a interessar os media. Ainda bem, porque o futuro de uma instituição centenária desta natureza é um assunto de cidadania, que ninguém poderia esperar, muito menos desejar, ficasse escondido dentro de gabinetes.

Como tenho repetido noutras ocasiões (v. por exemplo Publico, 23-12-2006), não sou, em absoluto, contra a transferência do MNA para outras instalações. Pertenci a equipas que procuraram essas alternativas e elas chegaram a estar prefiguradas em sucessivos PDMs de Lisboa (Alto do Restelo, Alto da Ajuda, terrenos anexos ao CCB, etc.). Tendo falhado todas estas hipóteses, optei na última década – e com eu todas as direcções do Instituto de tutela - por estudar, primeiro, e depois propor projectos de arquitectura muito sólidos, da autoria de Carlos Guimarães e Luís Soares Carneiro, alicerçados em sondagens e estudos geológicos realizados sob supervisão do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), visando a ampliação do MNA nos espaços já ocupados nos Jerónimos. Estes estudos e projectos foram desde 1998 acolhidos por todos os governos que precederam a actual legislatura e chegaram ser formalmente adoptados por um primeiro-ministro, que anunciou o calendário da sua execução.

Não posso deixar de considerar ser pena que se deitem agora à rua as dezenas, ou porventura centenas, de milhares de euros assim gastos. Mas, enfim, se a opção é de mudança de instalações, então o que importa assegurar é que ela seja claramente para melhor. Não podendo ser para edifício novo, pois que seja para um edifício histórico prestigiado, bem situado e sobretudo adequado às necessidades de um museu moderno, mormente daquele que é um dos mais visitados do Ministério da Cultura, o que possui colecções mais volumosas e vastas e ainda o que tem maior número de bens classificados como “tesouros nacionais”. E já agora, quanto ao espaço deixado livre nos Jerónimos, que se execute nele um projecto cultural que realmente valha a pena e honre a Democracia.

Ora, devo confessar que, não obstante a atitude positiva que sempre tenho em relação à mudança, o espírito construtivo e colaborante a que minha posição funcional me obriga e ainda a esperança que depositei na orientação política traçada pela actual Ministra da Cultura, tenho agora dúvidas que estes desideratos sejam de facto assegurados.

Em Novembro e Dezembro passados, após reuniões tidas com a tutela do MNA e directamente com a senhora Ministra da Cultura, foi traçado um caminho que me pareceu e continua a parecer sério e viável, a saber:

-mandar executar estudos geotécnicos, sob direcção de entidade idónea (que a senhora ministra anunciou à imprensa ser o LNEC), garantidores da viabilidade e condições de instalação do MNA na CN; destes estudos resultariam as obras de engenharia que fossem consideradas como condições prévias a qualquer projecto de arquitectura;

-execução de um projecto da arquitectura arrojado, respeitador da Cordoaria (ela própria classificada como monumento nacional e merecedora de todo o respeito) e do programa museológico do MNA;

-afectação de toda a CN ao MNA, reconfigurado institucionalmente de modo a incluir alguns serviços de arqueologia do Ministério da Cultura que nele poderiam desejavelmente ter lugar;

-não instalação antecipada na CN de serviços do MC, de modo a que o espaço estivesse totalmente disponível para a execução do projecto de arquitectura; correlativamente, não havendo necessidade de ocupação da CN por parte da Cultura, não entrega adiantada à Marinha de espaços nos Jerónimos, mantendo aqui o MNA toda a sua capacidade operacional, até que pudesse ser transferido para a CN, em boa e devida ordem.

Nos últimos dois meses parece que toda esta estratégia foi abandonada, sem que se perceba muito bem porquê. Talvez apenas pelo que se quer fazer nos Jerónimos e não propriamente pelo interesse na melhoria do MNA. Importa recordar que a ideia de afectar o sector oitocentista dos Jerónimos em exclusivo à Marinha, de forma clara (ampliação do Museu de Marinha) ou encapotada (Museu da Viagem, colocado em instalações alienadas para a Marinha, bem diferente do que seria um tal museu antropológico e civilista, sob tutela exclusiva da Cultura), limita-se a ressuscitar o antigo projecto do Estado Novo, sob impulso do almirante Américo Thomaz, que teve golpe de finados quando o Conselho da Revolução, em Janeiro de 1976 (no rescaldo do 25 de Novembro e quando País corria o risco de uma deriva cesarista), entendeu publicar um decreto hoje risível, no qual se impunha a transferência para a Marinha de todos os espaços dos Jerónimos não afectos ao culto. É irónico que este projecto seja retomado agora, mas… é a vida. Na condição em que subscrevo este texto, apenas me cumpre assinalar esta entorse cívica. Todavia, na mesma condição, cumpre-me mais, cumpre-me denunciar a extraordinária situação para que um museu mais do centenário e um acervo tão vasto e estruturante para o País são atirados, tratados como meros empecilhos para que uma opção política de regime possa rapidamente ser executada. Em ditaduras terceiro-mundistas não se faria diferente.

Quanto ao edifico da CN o problema não é tanto político mas técnico e altamente complexo, fazendo todo o sentido os cuidados na sua abordagem, acima sumariados. Trata-se de uma proposta que tem meio século, ressurge ciclicamente e foi sempre recusada com base em pareceres técnicos credíveis. Mudaram entretanto as circunstâncias ? Talvez. Mas apenas se alguém com competência bastante puder agora garantir a inexistência ou o adequado controlo dos riscos sísmicos, de inundação, impacte de marés, etc. que são reconhecidos naquele preciso local (edificado sobre o estuário do rio Seco num local, “Junqueira”, que significa pântanos de juncos) e arriscam conduzir a uma catástrofe para o acervo histórico nacional que o MNA guarda. E se outro alguém garantir depois a mobilização dos meios financeiros suficientes para a profunda requalificação do quarteirão inteiro da CN, onde nalguns sectores se verifica uma quase ruína e noutros as coberturas são em telha vã, os pavimentos são irregulares, estão saturadas em sais marinhos, etc., etc. Ora, a única coisa que até aqui me foi apresentado em sentido tranquilizador, foi um parecer dado a título individual por um antigo técnico LNEC, certamente competente, mas que não responsabiliza mais do o seu autor. O Grupo de Amigos do MNA obteve estudo de outro técnico muito credenciado e que vai em sentido contrário; eu próprio recolhi pareceres de dois dos mais reputados especialistas portugueses em engenharia sísmica – e todos concordam em alertar para o risco efectivo e elevado que existe no local da CN.

Talvez assim se compreenda melhor porque atribuo a esta matéria tanta importância. Talvez se entenda porque não posso em consciência, neste momento, considerar como definitivamente adquirida a transferência do MNA para CN. E, por outro lado, também assim se possa melhor perceber porque considero inaceitável executar desde já o despejo de parte do MNA nos Jerónimos – situação que seria sempre anómala (e desnecessária, porque não existem agora pressões para colocar quaisquer serviços da Cultura na CN), porque o que faria sentido, conforme o acordado inicialmente, era que o Museu apenas desocupasse os espaços actuais quando mudasse de instalações, após as obras profundas de arquitectura a que a CN deverá inevitavelmente ser submetida.

Continuo, pois, a aguardar a apresentação pública de estudos que garantam a segurança do acervo do MNA na CN. Aguardo, logo depois, a abertura de concurso público ou o convite a arquitecto consagrado para desenvolver o projecto que se impõe, tudo isto sem esquecer os estudos urbanísticos da zona envolvente, de modo a precaver, e potenciar, o fluxo das várias centenas de milhar de pessoas que passarão anualmente a frequentar uma zona em que se irão colocar lado a lado os dois mais visitados museus do Ministério da Cultura.

No entretanto, o MNA continuará a servir da melhor forma que puder os seus utilizadores, no cumprimento do programa cívico que Leite de Vasconcelos concebeu e Bernardino Machado adoptou. As iniciativas públicas já tomadas em torno do futuro do MNA, com especial relevo para o espírito combativo demonstrado pelo nosso Grupo de Amigos e para os oferecimentos de activa solidariedade por parte de personalidades as mais diversas, das associações científicas e profissionais, das universidades e das autarquias, reconfortam-me e dão fé de que a sociedade civil não está adormecida.

Luís Raposo

Director do Museu Nacional de Arqueologia, 29 de Março de 2010.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Imagem do Dia: 19-03-2010

Vasos Canópicos de Neskhons, esposa de Pinedjem II. Calcite com cabeças de madeira pintada. Provenientes de Deir el-Bahri, 990-969 a.C.


Autor da fotografia: Captmondo
Data:
19 de Agosto de 2008

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Hieróglifos: recursos online

Para quem tem curiosidade em aprender um pouco mais sobre os hieróglifos egípcios, a página dos Amigos da Egiptologia disponibiliza uma espécie de pequeno curso online em espanhol, organizado por Ángel Sánchez Rodríguez.

Os PDFs podem ser descarregados e lidos comodamente quando mais convier. Como as lições são publicadas de 3 em 3 meses, há tempo para assimilar os conteúdos e resolver vários exercícios. Aqui ficam os conteúdos publicados até agora neste âmbito:



  • Lição n.º 1 - Os signos e a transliteração Descarregar

  • Lição n.º 2 - Nomes próprios: pessoas, deuses e coisas Descarregar

  • Lição n.º 3 - Nomes próprios: Os nomes reais Descarregar

quinta-feira, 18 de março de 2010

Imagem do Dia: 18-03-2010

Um quê de poético e melancólico...



terça-feira, 9 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher- A mulher egípcia

Sei bem que foi ontem o Dia da Mulher, no entanto não consegui acabar este artigo a tempo...

Com base num pequeno livro de Christian Jacq (As Egípcias), alguns conteúdos do Dicionário do Antigo Egipto (dir. Luís Manuel de Araújo) e com algumas achas para a fogueira de minha autoria, aqui fica um texto um pouco mais longo que o costume...

Clemente de Alexandria, um dos primeiros padres cristãos, afirma em 180 da nossa era que "em Cristo não há macho nem fêmea". Contrariamente, Tertuliano, que se converteu ao Cristianismo em 193, defende que à mulher "não é permitido falar na igreja, nem ensinar, baptizar, fazer oferendas, reclamar uma parte de uma função masculina ou recitar qualquer ofício sacerdotal". Acaba por ser nesta última linha que as Religiões do Livro irão proceder, condenando as mulheres a um estado de inferioridade espiritual, que mais ou menos camuflado, persiste ainda hoje nas mentalidades eclesiásticas.

Champollion observa, no seu tempo, que no Egipto dos Faraós a mulher ocupava uma posição absolutamente extraordinária em relação à cultura greco-latina clássica mas mesmo também em relação à cultura do século XIX.

Se o grau de emancipação da mulher é a medida do grau de emancipação geral de uma sociedade, atentemos então em alguns exemplos emblemáticos do Antigo Egipto.

1. Ísis, criadora do universo, soberana do céu e das estrelas, senhora da vida, regente das divindades, maga de excelentes conselhos, Sol feminino que tudo marca com o seu selo; os homens vivem às tuas ordens, sem o teu acordo nada se faz.

Verdadeiramente vitoriosa sobre a morte, Ísis é uma deusa cuja popularidade passa as fronteiras do Egipto. Ela sobrevive à extinção da civilização egípcia e o seu culto espalhou-se por toda a bacia do Mediterrâneo. Num tempo em que o homem devia ser o objecto de admiração, o culto a uma mulher continuava forte e resistia às tentativas de aniquilação conduzidas, nomeadamente, pelo Cristianismo. Reza o ditado que "se não podes vencê-los, junta-te a eles". Ísis ganhou novas roupagens e o epíteto de Nossa Senhora, sobre o templo isíaco de Paris (par Isis ou per Isis), nasceu a catedral de Notre Dame.

2. Merit-Neit, Hetep-Heres e Meresanq

Maneton, sacerdote egípcio da época tardia que dividiu as Dinastias reais em 30 (modelo seguido ainda hoje, acrescendo-se a Dinastia Ptolomaica), afirma que as mulheres podiam exercer funções régias. A lei diz: uma mulher pode ser faraó. Se a consagração de algumas confirma isto mesmo, existem ainda outros casos que, apesar de aparentemente não existir consagração oficial, levam-nos a pensar que possam ter exercido o cargo, pelo menos de forma oficiosa.

O facto de Merit-Neit ter o túmulo Y em Abidos e o túmulo 3503 em Saqqara aponta para esta possibilidade, uma vez que, supostamente, só um faraó podia ter este privilégio. Além disso, nas estelas de Merit-Neit não existe a representação do falcão Hórus, protector do Faraó. Esta contradição parece apontar para a ideia de grande importância real, mas sem reconhecimento oficial do cargo.

O caso de Hetep-Heres é desde logo curioso porque a sua câmara funerária foi aberta precisamente a 8 de Março de 1925. O significado do seu nome será "o faraó é plenitude graças a ela". Esposa de Snefru e mãe de Quéops, os seus títulos revelam a importância desta grande dama: mãe do rei do Alto e Baixo Egipto, companheira de Hórus, superiora dos talhantes da Casa da Acácia, para a qual tudo o que ela formula se realiza, filha do deus, do seu corpo, Hetep-Heres.

Meresanq III é um caso notável. Ela possui o título de sacerdotisa do deus Tot, criador da sagrada linguagem hieroglífica. Meresanq tinha acesso à ciência sagrada e aos arquivos dos templos, detendo o conhecimento das escrituras rituais e provando que o universo do conhecimento estava aberto à participação da mulher.

3. Nitócris, a primeira mulher Faraó

Nitócris (Neitikert) é a primeira mulher a ter formalmente o título de "Rei do Alto e do Baixo Egipto" e subiu ao trono em 2184 a.C., reinando dois anos, um mês e um dia segundo os arquivos de época ramessida. Um texto de Eusébio cita Maneton, que se se refere à Faraó da seguinte forma: Uma mulher, Nitócris, reinou; tinha mais coragem do que os homens da sua época e era a mais bela de todas as mulheres, loira e de faces rosadas. Diz-se que construiu uma terceira pirâmide em Gizé.

Nitócris protagonizou uma lenda bem conhecida... enquanto se banhava no Nilo, um falcão apoderou-se de uma das suas sandálias, voou até Mênfis, onde residia o faraó, e deixou-a cair no colo do monarca. Imaginando o delicado pé que as dimensões e requintado objecto faziam adivinhar, mandou procurar a sua proprietária por todo o país. Os emissários do faraó encontraram-na, conduziram-na ao palácio real e foi amor à primeira vista...

4. Hatchepsut

No vigésimo nono dia do segundo mês de Inverno, ano 2 do reinado de Tutmés III, o oráculo do deus Ámon, no grande pátio do templo de Luxor, anuncia a Hatchepsut que ela viria a reinar no futuro.Cinco anos mais tarde ascendeu a Faraó.
Nos baixos-relevos de Deir el-Bahari, Ámon-Rá refere-se a ela nestes termos: Aquela que está unida a Ámon, Hatchepsut, será o nome da filha que depositei no teu corpo... É ela que exercerá as funções de faraó, radiosa e benfazeja, no país inteiro.
O seu reinado terá sido pacífico e muito próspero, com amplo sucesso no campo das obras públicas e das relações comerciais, sendo célebres as suas expedições ao Punt.

5. Nefertiti

O seu nome significa "A Bela chegou". Suma sacerdotisa do culto de Áton, Nefertiti podia dirigir sozinhaos rituais e a apresentação de oferendas ao deus Áton.

Neferiti e Akhenáton parecem governar em pé de igualdade, aparecendo sistematicamente representado o casal régio nas mais diversas cenas religiosas e de Estado. Existe, inclusive, uma pintura mural em que se vê a rainha enquanto faraó a destruir o inimigo, acto tradicionalmente atribuído ao rei.


6. Fora da realeza...

Apesar de nuca ter existido matriarcado, muitas foram as mulheres determinantes na vida pública do Antigo Egipto. Além das já referidas, outros nomes sonantes facilmente vêm à memória: Nefertari, Tiye, Tauseret, Cleópatra VII... A mulher das classes mais elevadas parece, de facto, ter um estatuto fora do comum não só para aquela época, mas mesmo em comparação com os dias de hoje. Ainda assim, as taxas de participação das mulheres de melhor condição social sempre foi mais elevada, quando comparada à restante população... Mas e a comum mulher egípcia?

No Antigo Egipto nenhuma lei obrigava uma mulher a viver com um homem. Uma mulher solteira tinha autonomia jurídica, bens próprios que podia gerir livremente e o casamento não era obrigatório. O pai não tem o direito de impor um pretendente à filha. Aparentemente, também a virgindade à data do casamento não seria questão de honra. Um das maiores curiosidades da altura prende-se com os casamentos experimentais, ou seja, contratos de casamento temporários para aferir se era, de facto, a melhor opção.

O casamento egípcio antigo era a vontade de fundar uma casa (gerep per) ou viver juntos (hensi irem), não se identificando com uma obrigação moral, religiosa ou administrativa. No respeito pela individualidade de cada um, a mulher não adoptava o nome do marido. Existia divórcio (!) e, neste caso, o marido tem que restituir os bens que a mulher levou para o casamento e ainda tem que dar-lhe um terço de tudo o que tenha sido adquirido a partir do dia em que o contrato foi estabelecido.

À excepção do exército, quase todos os sectores económicos que caracterizavam o Egipto Faraónico estavam abertos à participação da mulher. São conhecidos casos de mulheres que assumiram funções como vizires/tchaty, escribas, médicas e cirurgiãs (inclusive médicas-chefe), tesoureiras, funcionárias administrativas, gestoras de negócios, camponesas, chefes-artesãs, pilotos navais, inspectoras, juízas...

A mulher egípcia tem direito a legar bens e a ser herdeira em pé de igualdade com os homens. O caso da dama Naunaqté é extraordinário. Ela decide legar o seu património a quem lhe prestasse assistência na velhice, sem estar à espera de recompensa. Em testamento acaba, desta forma, por deserdar os quatro filhos que não a socorreram, beneficiando três homens e duas mulheres.

Ainda que existissem, com certeza, muitas outras situações em que o estatuto da mulher pudesse não ser o melhor, a verdade é que o Antigo Egipto revelava ser bastante avançado no entendimento que fazia da condição feminina. Pelo menos bem mais do que as civilizações suas contemporâneas, tais como a Babilónia, Assíria e Israel. O direito, assente no princípio teórico da maet (ordem cósmica), não consagrava privilégios de sangue, de classe ou de estatuto económico. A mulher era, neste âmbito, igual ao homem nos direitos fundamentais.

Hoje em dia, com todo o avanço técnico, científico, decorrido tanto tempo histórico, qual será o motivo que leva à perpetuação das desigualdades? Talvez o pequeno enorme pormenor: a desigualdade interessa de facto ao sistema de produção capitalista, como factor de desestabilização e de possibilidade do aumento de lucros. Sim, porque a história atesta que as mulheres são perfeitamente capazes de intervir em qualquer aspecto da vida humana, tal como os homens.

terça-feira, 2 de março de 2010

Mais Lego!

Mais umas fotos do Museu das Crianças, ala do Museu Egípcio do Cairo.


A inauguração contou com a presença do Príncipe Henrik da Dinamarca, do Dr. Zahi Hawass (Secretário-Geral do CSA) e da Dra. Walfaa al-Saddik (Directora-Geral do Museu Egípcio).

Foto de S. Abdel Mohsen



Ora vejam lá se esta esta construção em Lego não está espectacular:

Confesso que sou uma pessoa um pouco suspeita para avaliar porque sou fã de Lego, apesar (...ou por causa?) da minha infância praticamente não ter sido preenchida com estes imaginativos brinquedos...



Agora, 16 modelos que integraram a exposição itinerante da Lego "Segredos dos Faraós" ficaram com uma casinha definitiva neste museu concebido para os mais pequenos, que certamente vai fascinar também muitos adultos.


502 836 blocos de Lego e 2 430 horas depois, os 16 modelos transportam os visitantes numa viagem pelo Antigo Egipto e retratam divindades, artefactos, monumentos e cenas do quotidiano de um país "à beira-Nilo plantado".


Fotos recolhidas da newsletter digital do Museu Egípcio do Cairo

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sacerdotes egípcios gulosos... e com colesterol elevado?

Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Manchester, no Reino Unido, revela que a dieta dos sacerdotes do Antigo Egipto era pouco saudável e continha, nomeadamente, um alto teor de gorduras saturadas que contribuem para a formação de placas de cálcio nas artérias.

Esta conclusão é baseada em hieróglifos descobertos nas paredes de vários templos e também na análise de múmias de sacerdotes, que apresentam traços inconfundíveis de danos arteriais e de doenças cardíacas.

Os sacerdotes egípcios antigos oferendavam os seus deuses três vezes por dia com quantidades generosas de carne de vaca, aves, pão, frutas, legumes, bolos, vinho e cerveja. Terminada a cerimónia, eles levariam essas iguarias para casa e, ao que tudo indica, tratavam de as consumir.

Rosalie David, a principal responsável pelo estudo, acredita que a mensagem não poderia ser mais sugestiva: "vive como um deus e vais pagá-lo com a tua saúde". Fica provado que as artérias bloqueadas devido a uma dieta rica em gorduras não são uma doença moderna, remontando o problema às civilizações antigas.

Fonte: RIA Novosti / http://www.egiptologia.com (Roberto Cerracin)


Pois... não me parece que fosse o camponês egípcio a ter problemas destes na antiguidade. Já hoje em dia, talvez as camadas da população com menor poder compra estejam bem mais susceptíveis a ter doenças devido a uma alimentação incorrecta e menos variada.

Descoberta cabeça colossal de Amenhotep III


O Ministro da Cultura egípcio, Farouk Hosni, anunciou ontem que foi descoberta uma cabeça colossal em granito vermelho do rei Amenhotep III (circa 1390-1352 aC). A descoberta foi feita pelo Projecto de Conservação do Colosso de Memnon e Templo de Amenhotep III, equipa multinacional euro-egípcia, na área de Kom El-Hettan em Luxor, margem ocidental do rio Nilo, 600 quilómetros ao sul do Cairo.


Zahi Hawass, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, revelou que a cabeça recém-descoberta está intacta e mede 2,50m de altura. É uma obra-prima de alta qualidade artística e mostra um retrato do rei com características jovens finamente esculpidas.

A peça encontrada é considerada uma das mais bonitas feitas por artistas antigos e retrata o jovem rei adornado com a coroa branca do Alto Egipto, onde é ainda possível observar alguns traços de tinta vermelha sobre a cabeça da serpente uraeus.

Hourig Sourouzian, chefe da missão, afirma que a cabeça de granito pertence a uma grande estátua que representa o rei de pé, com as mãos cruzadas sobre o peito, segurando a insígnia real. Ela revela que nos últimos anos foram reunidas uma grande quantidade de peças da estátua em granito vermelho na parte sul do grande pátio do templo funerário de Amenhotep III que estão actualmente a ser restauradas.

A barba cerimonial da cabeça encontrada está partida sob o queixo, mas os arqueólogos acreditam que ainda está enterrada nas areias de Luxor.

Este templo é um dos mais importantes da XVIII dinastia. Oitenta e quatro estátuas colossais foram lá desenterradas, nomeadamente as do rei Amenhotep III e da sua esposa, a Rainha Tiye, cuja múmia foi recentemente identificada.


Fonte: EFE / http://drhawass.com

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O Espelho de Cleópatra



As Jornadas do GAMNA são desta vez subordinadas ao tema "Mulheres da Antiguidade". A conferência de 17 de Março tem o tema "A emergência do Império Novo no Egipto e as grandes esposas reais" e vai ser conduzida por Luís Manuel de Araújo, professor da área História e Cultura Pré-Clássica - Egiptologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

16 a 19 de Março de 2010
Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa
Entrada livre

Bem que podia haver destas coisas noutros pontos do país...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A descoberta dos segredos da família do rei Tutankhamon

Tradução da Nota de Imprensa publicada no blog de Zahi Hawass a 20 de Fevereiro

A análise do ADN e a tomografia computadorizada da múmia do faraó da XVIII dinastia, Tutankhamon (ca. 1333-1323 aC), e de múmias tidas como membros da sua família directa revelaram novas e surpreendentes provas acerca da linhagem do jovem rei e da causa da sua morte. Um resultado adicional do novo estudo, no qual foi possível utilizar efectivamente a análise do ADN em antigas múmias egípcias pela primeira vez, é o facto de que várias múmias previamente não identificados podem agora ter nomes. Estes estudos foram realizados por cientistas egípcios e consultores internacionais enquanto parte do Projecto Família de Tutankhamun, sob a liderança do Dr. Zahi Hawass. As conclusões foram publicadas pelo JAMA, Journal of the American Medical Association, na sua edição de 17 de Fevereiro de 2010 (Volume 303, n.º. 7).



A múmia da "Velha Senhora", do mesmo túmulo, pode agora ser conclusivamente identificada como a avó de Tutankhamon, a Rainha Tiye. Há uma nova luz sobre a causa da morte de Tutankhamon com a descoberta do ADN do parasita causador da malária: é provável que o jovem rei tenha morrido de complicações decorrentes de uma forma grave da doença.

O nome e os tesouros de Tutankhamon são famosos em todo o mundo. Ele subiu ao trono enquanto criança e governou o Egipto quase dez anos, no final da XVIII Dinastia, durante um período - há mais de 3000 anos - em que o Egipto controlava um vasto império. Os seus antecessores imediatos no trono egípcio foram Amenhotep III e Akhenaton, filho de Amenhotep III, por via da rainha Tiye. Akhenaton é lembrado como primeiro monoteísta do mundo. Ele e a sua bela esposa Nefertiti abandonaram o panteão anteriormente adorado pelos egípcios em prol do disco do Sol, Aton, fecharam os grandes templos do estado e mudaram a capital cerimonial do país de Tebas, no sul do Egipto, para o remoto sítio agora conhecido como El-Amarna.
O fim da vida de Akhenaton está envolto em mistério mas, imediatamente ou alguns anos após a sua morte, Tutankhamon tomou o trono. Pelo segundo ano do seu reinado, ele começou a movimentar o tribunal de volta para a tradicional capital religiosa de Tebas e a restabelecer a velha religião.

Durante décadas, desde a
espectacular descoberta feita por Howard Carter do seu túmulo intacto no Vale dos Reis em 1922, os estudiosos têm debatido a filiação de Tutankhamon, sendo os principais candidatos propostos Amenhotep III, Akhenaton, e um rei chamado Smenkhkare, sobre o qual quase nada se sabe mas que parece ter governado ainda durante ou logo após o fim do reinado de Akhenaton. As possíveis mães mais citadas na literatura egiptológica são a grande esposa de Amenhotep III, Tiye, uma das esposas de Akhenaton ou a rainha de Smenkhkare, provavelmente filha de Akhenaton e Nefertiti.
Para explorar essa questão, o Projecto Família de Tutankhamon estudou a múmia de Tutankamon e dez outras múmias tidas como estreitamente relacionadas com ele. Foram incluídas as múmias dos pais da rainha Tiye, Yuya e Tjuya; a múmia de Amenhotep III; uma múmia masculina anónima encontrada em KV55, no Vale dos Reis; material do Túmulo Real da capital de Akhenaton, Amarna; duas múmias femininas anónimas - a "Velha Senhora" e a "Jovem Senhora", escondidas juntamente com os corpos de vários faraós do Novo Império e suas famílias no túmulo de Amenhotep II, no Vale dos Reis (KV 35); duas múmias femininas anónimas provenientes de um pequeno túmulo sem inscrições que se pensa serem duas rainhas da XVIII Dinastia (KV21A e KV21B). Um grupo de cinco múmias reais de um período anterior foi usado como grupo de controlo.


A análise primária foi realizada no laboratório de ADN (dedicado ao ADN antigo) recém-construído no Museu Egípcio do Cairo, doado ao projecto pela Discovery. Dois tipos de análise de ADN foram realizados em amostras colhidas de ossos das múmias: análise de sequências específicas de ADN nuclear do cromossoma Y, que é passado directamente de pai para filho, para estudar a linha paterna; e a impressão digital genética do ADN autossómico do genoma nuclear, que não decide directamente o sexo de uma pessoa. Para confirmar os resultados de ADN, as análises foram repetidas e independentemente replicadas num laboratório de ADN antigo recém-equipado por um grupo separado de pessoal. As tomografias foram realizadas com uma unidade TAC móvel multicorte C130 KV, 124-130 ms, 014-3 mm de espessura de corte, Siemens Somatom Emotion 6, doada para o projecto pela Siemens e pela National Geographic Society.
Tanto a análise do cromossoma Y como as impressões digitais genéticas foram realizadas com sucesso e permitiram a criação de uma linha de cinco gerações de parentes do jovem rei. A análise prova de forma conclusiva que o pai de Tutankhamon era a múmia encontrada em KV55. A TAC desta múmia aponta para uma idade entre 45 e 55 anos na altura da morte. A maioria dos estudos forenses anteriores tinham indicado uma idade de 20-25 anos, o que seria demasiado jovem para Akhenaton, que subiu ao trono já adulto e governou por 17 anos. A nova TAC prova que esta múmia é quase certamente o próprio Akhenaton, como as evidências egiptológicas do túmulo há muito têm sugerido. Apoiando esta linhagem, o ADN também traça uma linha directa de Tutankhamon, através da múmia de KV55, com o pai de Akhenaton, Amenhotep III. O ADN mostra que a mãe da múmia de KV55 é a "Velha Senhora" de KV35. Esta múmia é a filha de Yuya e Tjuya e, assim, definitivamente identificada como esposa de Amenhotep III, a grande Rainha Tiye.
Outro resultado importante da análise de ADN é que a "Jovem Senhora" de KV35 foi positivamente identificada como mãe de Tutankhamon. O projecto ainda não é capaz de identificá-la pelo nome, embora os estudos de ADN revelem que ela era filha de Amenhotep III e Tiye e, portanto, irmã de Akhenaton. Assim, os únicos avós de Tutankamon, dos lados paterno e materno, foram Amenhotep III e Tiye.

Dois fetos nado-mortos foram mumificados e encontrados escondidos numa câmara do túmulo de Tutankamon. Análises preliminares de ADN suportam a hipótese de que eram filhos do jovem rei. Esta análise sugeriu também que uma múmia conhecida como KV21A, uma mulher real cuja identidade era completamente desconhecida, como sendo a mãe mais provável dessas crianças e, assim, a esposa de Tutankamon. Como a única consorte conhecida de Tutankhamon era Ankhsenamun, filha de Akhenaton e de Nefertiti, um estudo mais aprofundado desta múmia deverá ajudar a compreender melhor as relações complexas dentro desta família.
O projecto estudou cuidadosamente as tomografias computorizadas da família em busca de doenças hereditárias, como a síndrome de Marfan e ginecomastia/síndrome de craniossinostose, que tinham sido anteriormente postuladas com base em representações na arte egípcia. Não foram encontradas evidências de qualquer destas doenças e, como tal, as convenções artísticas seguidas pela família real do período de Amarna foram, provavelmente, escolhidas por motivos religiosos e políticos.
Outro resultado importante dos estudos de ADN foi a descoberta de material de Plasmodium falciparum, o protozoário causador da malária, no corpo de Tutankhamon. Géneros alimentícios medicamentosos (ou seja, medicamentos para combater a febre e dor) encontrados dentro do túmulo corroboram a afirmação da equipa de que o jovem rei sofria de uma infecção grave de malária. A TAC revelou também que o rei tinha um pé defeituoso, devido a necrose óssea avascular. Esta conclusão é apoiada egiptologicamente pela presença de mais de cem bengalas no túmulo e por imagens do rei praticando actividades como a caça sentado. O projecto acredita que a morte de Tutankhamon foi provavelmente consequência da malária em conjunto com a sua constituição fraca em geral. A tomografia computorizada do faraó confirmou anteriormente a presença de uma ruptura não cicatrizada no osso da coxa esquerda do rei. A equipa especula que o estado debilitado do rei pode ter levado a uma queda, ou que a queda enfraqueceu a sua já frágil condição física.
Mais informações:
Dig Dias - Rei Tut era o Filho de Akhenaton

*Creio que a própria nota de imprensa foi escrita de uma forma algo... macarrónica, pelo que a tradução me parece um pouco estranha em algumas partes. Preferi resistir à tentação de a reescrever totalmente à minha maneira (o que não foi fácil!). Peço desde já desculpa se considerarem errónea a tradução de qualquer nomenclatura para português, tentei fazer algumas opções dentro daquilo que vou conhecendo mas ainda tenho algum caminho a percorrer nesse assunto.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Egipto: novo esforço legislativo para proteger o património


É uma notícia de ontem que me parece bastante importante,
pois estima-se que actualmente o tráfico de antiguidades seja o mercado marginal mais lucrativo depois do tráfico de droga e de armas (dados da Interpol).


Cairo, 2 Fev (Prensa Latina) A Assembleia Popular do Egipto, câmara baixa do Parlamento, aprovou uma lei controversa sobre antiguidades que visa regulamentar a protecção do património e do seu comércio ilegal, anunciaram hoje os meios de comunicação oficiais.


O texto foi aprovado após intenso debate no órgão legislativo, que contou com a participação persuasiva do Secretário-Geral do Conselho Supremo de Antiguidades (CSA) do Egipto, o arqueólogo Zahi Hawass.

Segundo o Presidente do Parlamento, Ahmed Fathi Sorour, todos os deputados e autoridades governamentais afirmaram a vontade de preservar os interesses do país em matéria de património, reconhecendo mal-entendidos entre políticos e autoridades culturais.

Depois de considerar como distorções as reportagens jornalísticas que alegadamente classificaram esta legislação como uma ameaça aos monumentos egípcios, Hawass defendeu o documento, cujo artigo oitavo proíbe o comércio ou qualquer outra forma de venda de antiguidades se não houver autorização por escrito da CSA.

A lei também prevê que o Conselho tem o direito de retirar uma antiguidade ao proprietário, a troco de uma "compensação razoável".

O principal ponto de controvérsia no Parlamento centrou-se na definição de antiguidade, que a nova legislação descreve como sendo qualquer coisa antiga que date de há mais de 100 anos e seja considerada como tal com base no seu valor artístico e histórico.

ocs/ucl

Fonte: Prensa Latina

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Fim-de-semana egiptológico em Cantábria, Espanha

Fica a sugestão de um passeio diferente por terras de "nuestros hermanos".


A Associação Amigos da Egiptologia de Cantábria organiza o 2.º Fim-de-Semana Egiptológico nos dias 18, 19 e 20 de Fevereiro, na Casa da Cultura de Villapresente (Reocín).

Programa

18 de Fevereiro (Quinta-Feira)

19h30 - Inauguração da exposição "Napoleão Bonaparte no Egipto", que se debruça sobre a expedição francesa à Terra dos Faraós e sobre a obra do séc. XIX "Description de l´Égipte". A exposição pode ser visitada até 21 de Março, de Terça a Sábado e das 17 às 21 horas.

19 de Fevereiro (Sexta-Feira)

19h30 - Conferência "Napoleão Bonaparte no Egipto, o início da Egiptologia" com Manuel Abeledo Tascón, fundador e presidente da Associação.

20 de Fevereiro (Sábado)

19h30 - Conferência "A paisagem do Antigo Egipto através das escavações de Saqqara e do Ramesseum" com Victoria Asensi Amorós

Todas as actividades são gratuitas.

Mais informações em:

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Curso de Iniciação ao Egipto Ptolomaico

É já no próximo fim-de-semana, no Museu Nacional de Arqueologia (Lisboa).

Eu vou!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Dinastia Lego

Para incentivar as crianças a explorar o mundo misterioso dos seus antepassados, o Museu Egípcio do Cairo abriu o primeiro Museu de Lego para crianças no Egipto. Nevine El-Aref revive a sua infância



Uma exposição itinerante que tem viajado para os museus e centros de ciência de todo o mundo conseguiu um lar permanente no Museu Egípcio, localizado na Praça Tahrir.

Em "Segredos dos Faraós", antigos monumentos do Egipto foram reconstruídos totalmente em Lego e estão agora expostos na cave do Museu.

Maquetes de alguns dos edifícios antigos mais queridos do país foram transformados em grandes blocos coloridos de Lego e estão em exposição na galeria da cave. Aqui a Esfinge em frente das três Pirâmides de Gizé; ali uma equipa de antigos construtores a edificar um templo, enquanto artesãos decoram as suas paredes e um escriba se aninha com um maço de papéis para gravar a cena. Aqui está a máscara do rei-menino Tutankhamon, assim como parte da sua colecção fúnebre.

A exposição combina a diversão dos famosos blocos de construção Lego, que toda a gente usou para brincar em criança, com a colorida e surpreendente história do Antigo Egipto.


Os visitantes terão a oportunidade de aprender sobre a vida quotidiana nas margens do rio Nilo, no Egipto Antigo. Haverá oportunidades para aprender a escrever usando os antigos hieróglifos egípcios. Haverá também aulas sobre os misteriosos rituais egípicios da morte e da vida no Além.

O director do Museu Egípcio, Wafaa El-Seddik, afirma que a exposição combina a magnificência dos monumentos originais com o divertimento dos Legos. El-Seddik diz que a exposição está dividida em seis secções exibindo diferentes aspectos da antiga civilização egípcia: a vida quotidiana ao longo do Nilo, os reis e as suas famílias, as crenças religiosas, a vida após a morte e as divindades veneradas por muitos. No final da visita as crianças são convidadas para uma pequena oficina onde podem explorar por si mesmas a civilização do Antigo Egipto através das suas criações em peças de Lego.

Zahi Hawass, Secretário-Geral do Conselho Supremo de Antiguidades, diz que o objectivo da exposição é ajudar as crianças egípcias a aprenderem mais sobre si próprias e os seus antepassados, e a obterem uma melhor compreensão sobre o que significa ser egípcio. Quanto a não-egípcios, El-Seddik diz que a exposição será uma janela através da qual eles podem explorar o impacto da história e cultura do Egipto através da construção das suas próprias peças.


As figuras de Lego são voltadas para jovens visitantes do Museu. Elas destacam os mais famosos e icónicos achados arqueológicos egípcios. Alguns modelos são em tamanho natural, como o de Tutankhamon, enquanto outros, como a Esfinge, foram feitos à escala para caber no espaço expositivo.

Os destaques da exposição são as criações fixas, mas há vários elementos interactivos que vão encantar crianças e adultos. Puzzles, múltiplas oportunidades de boas fotografias e a possibilidade de escreverem o nome em hieróglifos são apenas o começo. As crianças podem desempenhar um papel num filme de múmias, perder-se num labirinto e, claro, perder-se nas suas próprias criações de Lego.

Parte do divertimento na exposição é saber quanto tempo demoraram e quantas peças têm alguns destes fantásticos modelos. Só para criar a máscara de Tutankamon, artistas Lego tiveram mais de 220 horas de trabalho e usaram mais de 25.000 peças.



Fonte: Al Ahram Weekly
Original em Inglês: http://weekly.ahram.org.eg/2010/982/he2.htm

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Nova Descoberta em Kom el-Dikka


Tradução da nota de imprensa de Zahi Hawass


Uma missão arqueológica do Conselho Supremo de Antiguidades (CSA) liderado pelo Dr. Mohamed Abdel Maqsoud, Chefe das Antiguidades do Baixo Egipto, descobriu os restos de um templo da Rainha Berenice (Berenike), mulher do Rei Ptolomeu III (246-222 a.C.), juntamente com um esconderijo de 600 estátuas ptolomaicas.

A descoberta foi feita durante escavações de rotina em Kom el-Dikka, numa área que pertence às Forças de Segurança de Alexandria.

Zahi Hawass, Secretário Geral do CSA, afirmou que os vestígios descobertos têm 60 metros de altura e 15 metros de largura, prolongando-se por baixo da Rua Ismail Fahmy. O templo terá sido destruído em era posterior, quando era usado como pedreira, o que terá levado ao desaparecimento do muitos dos seus blocos de pedra.

Segundo o Dr. Abdel Maqsoud, a missão, que inclui 18 escavadores e restauradores qualificados, desenterrou uma grande colecção de estátuas alusivas à deusa-gata Bastet, divindade da protecção e da maternidade, o que indica que o templo terá sido dedicado a esta deusa. Maqsoud salienta que as estátuas de Bastet e outras estátuas em calcário de mulheres e crianças não identificadas foram exumadas em três áreas diferentes do sítio. Também foram encontrados potes de cerâmica e estátuas em bronze e faiança relativas a outras divindades egípcias, bem como estátuas de terracota dos deuses Harpócrates e Ptah.

Os primeiros estudos realizados no local revelam que a fundação do templo pode ser datada do reinado da Rainha Berenice, o que faz dele o primeiro templo ptolomaico encontrado em Alexandria a ser dedicado a Bastet, indiciando que o culto da deusa Bastet terá continuado no Egipto após o declínio da era antiga.

Também foi descoberta a base de uma estátua de granito do rei Ptolomeu IV (205-222 a.C.), contendo inscrições em Grego antigo. O texto, escrito em nove linhas, revela que a estátua pertenceu a um oficial de topo da corte ptolomaica. Abdel Maqsoud acredita que a base foi feita para comemorar a vitória egípcia sobre os gregos, na batalha de Raphia em 217 antes de Cristo.

A missão encontrou ainda um grupo de antigas estruturas, incluindo uma cisterna de água romana, um conjunto de poços de água com 14 metros de profundidade, canais de água em pedra, os restos de uma área de banhos e um grande número de potes e fragmentos de cerâmica datáveis do século IV a.C..

Maqsoud pensa que esta descoberta é o primeiro vestígio da verdadeira localização do bairro real de Alexandria.

Mais informações em:

http://www.drhawass.com/blog/press-release-new-discovery-kom-el-dikka


Não sou profissional da tradução nem da redacção jornalística, mas lá me entretive a fazer isto. Perdoem-me qualquer lapso que tenha eventualmente ocorrido. A imagem pertence ao CSA e retrata uma estátua da deusa Bastet a segurar um pássaro entre as patas dianteiras.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ippolito Rossellini e a Alvorada da Egiptologia

Ippolito Rosellini e a Alvorada da Egiptologia. Desenhos e manuscritos originais da Expedição Franco-Toscana ao Egipto (1828-1829) da Biblioteca Universitária de Pisa

Museu Egípcio do Cairo, Sala 44

De 27 de Janeiro a 23 de Fevereiro de 2010

Exposição organizada pela Universidade de Pisa (Itália) em cooperação com o Conselho Supremo de Antiguidades do Egipto e com o Centro Arqueológico Italiano no Cairo.

Inauguração no dia 26 de Janeiro, às 18h30 locais.

Cinquenta desenhos originais da Expedição Literária Toscana ao Egipto (que acompanhou a expedição francesa de J.F. Champollion) serão expostos juntamente com manuscritos inéditos de notas tiradas in situ por Ippolito Rosellini, cartas a ele dirigidas por Egiptólogos famosos, como o próprio Champollion, Lepsius ou Leemans, e ainda outros materiais dos Arquivos Rossellini da Biblioteca Universitária de Pisa.

...se eu pudesse, ia lá!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Maquilhagem curava doenças dos olhos

PARIS - Cientistas franceses afirmaram na passada Quinta-Feira que a fantástica maquilhagem de olhos do Antigo Egipto não só defendia os egípcios dos efeitos nefastos do mau-olhado, como também os protegia de doenças oftálmicas.

Segundo Philippe Walter, co-responsável da equipa de cientistas do Louvre e do CNRS national research institute, há 4000 anos os Antigos Egípcios produziam a maquilhagem para escurecer e adornar os olhos usando chumbo e sais de chumbo em misturas que por vezes demoravam um mês a misturar.

"Sabíamos que os Gregos Antigos e os Romanos também conheciam as propriedades medicinais da maquilhagem mas queríamos determinar precisamente como", disse o cientista à AFP.

Contrariando a crença generalizada de que o chumbo é prejudicial, esta equipa determinou, através do uso da química analítica, que em doses muito pequenas o chumbo não mata as células. Em vez disso, aquele elemento produz uma molécula - óxido nítrico - que activa o sistema imunitário e combate as bactérias em caso de infecções nos olhos.

A pesquisa foi realizada utilizando um minúsculo eléctrodo, com um décimo do tamanho de um cabelo, para observar o efeito de um cloreto de chumbo sintetizado pelos Egípcios - laurionite - numa única célula.

O estudo foi divulgado online na Quinta-Feira pelo Journal of Analytical Chemistry.

-- AFP--

Nota: a tradução é de minha autoria. Espero que esteja aceitável.