quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo!

Ficam aqui os votos de um 2010 muito feliz para todos!

E, já agora, um dos poemas do vaso de Deir el-Medina na tradução de Luís Manuel Araújo (Estudos sobre erotismo no Antigo Egipto, Edições Colibri).

CANTIGAS DO RIO E DESEJOS DE AMOR - I

Primeiro poema. Fala o amado:

O teu amor dia e noite, durante horas,
deitado, acordado até ao romper da aurora.
O teu encanto reanima o meu coração.
É a tua voz que revigora o meu corpo.

Segundo poema. Fala a amada:

O teu corpo está unido
Como o fino linho ao corpo dos deuses,
como o incenso às narinas.
Ele é como a mandrágora na mão do homem.
Como as datas que se misturam na cerveja.




Terceiro poema. Fala a amada:

Oh, meu deus, minha flor de lótus!
Como é agradável mergulhar no rio,
banhar-me diante de ti.
Vou mostrar-te como sou bela
no meu vestido de linho branco
humedecido pelos bálsamos.
Entro na água e volto para ti de novo
com um magnífico peixe vermelho
preso na minha mão.
Dou-to, meu amado. Vem! Olha para mim!

Quarto poema. Fala o amado:

A minha amada está na outra margem
e o rio corre entre nós dois;
a corrente está forte com a cheia
e o crocodilo anda nos baixios.
Entro na água e enfrento as ondas,
o meu coração é forte sobre as vagas.
O crocodilo é para mim como uma mosca,
a água é como terra sob os meus pés.
É o seu amor que me dá forças
para vencer os perigos do rio.
O meu coração é capaz de tudo
quando ela está perante mim!

Quinto poema. Fala o amado:

Vejo a minha amada chegar,
o meu coração rejubila
e abro os braços para a abraçar.
O meu coração está louco de alegria
como o peixe vermelho no lago.
Oh, noite, nunca mais acabes,
agora que a minha amada chegou!

Sexto poema. Fala o amado:

Quando a tomo nos meus braços
e os seus braços me enlaçam,
é como estar na terra de Punt,
é como ter o corpo impregnado
de óleo perfumado.

Sétimo poema. Fala o amado:

Quando a beijo,
quando os seus lábios se entreabrem,
sinto-me inebriado,
sem mesmo ter bebido cerveja.
Vem cá servo,
traz linho fino para vestir o seu corpo,
traz linho real para ela,
cuidado com o linho branco e os adornos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Culinária do Antigo Egipto

Sempre fui fã da culinária exótica e adoro experimentar sabores novos. Esta sugestão parece-me um pouco duvidosa mas... porque não? Afinal, trata-se do "caviar do Mediterrâneo".

Torradas com poutargue


Aparentemente, esta entrada está representada em paredes de túmulos do Império Antigo. Sobrevive no Egipto actual e em vários países do Mediterrâneo, por onde terá sido divulgada através dos Fenícios.


Ingredientes
200 gramas de poutargue (espécie de enchido de ovas de tainha, servido salgado e seco)
100 ml de azeite
torradas
azeitonas pretas

Preparação
Retirar a pele da poutargue e deixar em sal por meia hora. A seguir, prensar entre duas tábuas e secar numa peneira. Cortar em pequenos pedaços, amassar com um garfo em azeite e esmagar até obter uma pasta suave. Servir sobre torradas douradas no forno e decorar com azeitona preta.

Poderão descobrir mais sobre a culinária do Antigo Egipto no livro História da Cozinha Faraónica, de Pierre Tallet. Pena que seja um bocado carote (€ 31,50 na Bertrand).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Mulheres com o seu nome na ciência

Foi no Antigo Egipto que pela primeira vez uma mulher foi mencionada nos anais da ciência. A médica Merit Ptah abriu o caminho para o reconhecimento feminino neste campo. Já Marie Curie, mostrou que o sexo feminino pode chegar ao pódio dos pódios: A investigadora foi a primeira pessoa a ser duas vezes galardoada com o Prémio Nobel: o da Física em 1903 e o da Química, oito anos mais tarde, em 1911. Já os trabalhos científicos de mulheres como Rosalind Franklin, abriram caminho a que outros recebessem o galardão, sem que contudo recebesse os créditos pela sua investigação. Muitas mulheres destacam-se hoje em cargos de liderança nas sociedades científicas.

Nascida em 1947, a bióloga norte-americana [*Linda Buck ] recebeu o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina em 2004, juntamente com Richard Axel, pelo seu trabalho sobre receptores do olfacto. Em 1991, ao analisar ADN de ratos de laboratório, avançou que haveriam centenas de genes para os receptores olfactivos no genoma dos mamíferos. Esta pesquisa permitiu abrir a porta à análise genética e molecular dos mecanismos do olfacto. Está na Academia Americana de Ciências desde 2004.

A norte-americana [**Nina Byers] é uma das físicas mais reconhecidas no seu país. Trabalha actualmente como investigadora e professora no Departamento de Física e Astronomia da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA). Teve vários cargos na Sociedade Americana de Física, como Presidente do Fórum de História da Física, entre 2004 e 2005, Presidente do Fórum de Física e Sociedade, em 1982, e Conselheira da Sociedade de 1977 a 1981. Criou um site sobre mulheres da sua área.

A biofísica londrina [***Rosalind Franklin], nascida em 1920 foi pioneira no campo da biologia molecular. Utilizando a técnica da difracção dos raios X, concluiu em 1949, que o ADN tinha forma helicoidal O seu trabalho permitiu aos bioquímicos James Dewey Watson, Maurice Wilkins e Francis Crick confirmar a dupla estrutura helicoidal do ADN, dando-lhes o Nobel de Fisiologia/Medicina (1962). Rosalind, que morreu em 1958, não foi galardoada porque o Nobel não pode ser atribuído postumamente.

A cientista francesa de origem polaca [***Marie Curie] (chamava-se Maria Sklodowska e depois assumiu o nome do marido) foi a primeira pessoa a ser laureada duas vezes com um Prémio Nobel. Primeiro de Física, em 1903 (dividido com seu marido Pierre Curie e Becquerel) pelas suas descobertas no campo da radioactividade. Depois, oito anos mais tarde, com o Nobel de Química pela descoberta dos elementos químicos rádio e polónio. Foi uma directora de laboratório reconhecida pela sua competência.

Viveu no Antigo Egipto, por volta de 2700 a.C. e terá sido a primeira médica do Mundo com o nome a ser citado e preservado numa imagem que pode ser vista numa tumba na necrópole próxima da pirâmide de degraus de Saqqara. O seu filho, que foi Alto Sacerdote, descreveu-a como sendo "Médica Chefe". A IAU (União Astronómica Internacional) baptizou uma cratera de impacto em Vénus como "Merit Ptah", em homenagem à primeira mulher a ser nomeada na Ciência.

28 Novembro 2009
DN Ciência
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*Creio que por lapso o nome da bióloga não consta no artigo, o acrescento é meu
** Novamente a ausência do nome da cientista em questão. Presumo que se trate de Nina Byers, da UCLA, que desenvolveu a página
CONTRIBUTIONS OF 20th CENTURY WOMEN TO PHYSICS http://cwp.library.ucla.edu
*** Acrescentei apenas para facilitar a leitura e apreensão imediata de quem se trata